Há alguns anos, minha professora de Redação jogou meu texto
sobre a carteira em que eu estava e disse, com os lábios tremendo de nervoso:
"Você escreve para machucar as pessoas?!". Nesse instante, descobri
que eu tinha, sim, essa possibilidade, e até mesmo, (vergonha para mim) a usei.
Mas o tempo sempre cura a maldade, e aprendi que não mais deveria machucar ao
escrever: passei a ser simplório e banal, descrevendo cenas do meu cotidiano.
Meu empirismo literário me levou à triste constatação de que, hoje, sou eu que
me machuco ao escrever. Por dois motivos principais: o primeiro - nem sempre
consigo discorrer sobre o que quero, o que sinto ou o que realmente importa pra
mim, e isso me frustra; o segundo - eu adoraria poder voltar no tempo e ter largado
a caneta durante aquela redação, talvez a causa de tantas tristezas hoje fosse
minimizada. No campo profissional, talvez, eu não seria um
pseudo-historiador-arqueólogo, mas, penso comigo, eu ficaria sem a única parte
que jamais me abandonou em minha vida: os meus romanos. E vem outra voz
dizendo: "Então, Alex, por que escreve quando ama?". Por burrice.
Pura burrice. Pára, Alex, por favor. É uma tristeza que você sente agora, Alex,
por favor, pára. Tudo bem... fim.
Era aquela maldita caveira novamente. - Ei, puto, chegue cá! E ela veio, meio cambaleante, com seu ritmado compasso de fêmur. Caveira mexicana. Sorria com os amarelados-pontos-temerosos-de-dentistas. Trazia um charuto entre os finos dedos da ossatura direita. - Mas o que faz aqui novamente, peste? - Sabe como é, caveirando... Invejando os que têm carne. - Porra, esse povo deve tomar um susto, hein! - Nem me fale. Não sei porque tanto medo. Uma caveirinha tão simpática como eu. Coçou as costelas. - O que é isso aí? - Isso o que? - Preso aí, velho. - Presente para usted. E retirou uma grande garrafa de rum. - Conseguiu onde? - Dei sorte. Geralmente nessa época, só encontro aguardente sem graça. Isso eu roubei de macumba de rico. Ele cuspiu. - Cacete, macumba?!