Embora
tenha sido tão repentino, naquele momento sentiu-se grande. A primeira coisa a
ser notada foram os dedos. Unhas quadradas. Em finos dedos. Delicados. E por
eles deslizou as próprias mãos. Mesclou os dedos aos dela. Reparou na diferença
entre os tamanhos: mulheres sempre foram feitas na medida para serem abraçadas.
Nesse caso, sua mão pequena foi rodeada pelos dedos alheios. Formou-se uma
concha. Com o polegar-de-violão, alisou o polegar daquela moça. Ato retribuído.
Com os demais dedos, aqueles que têm mais agilidade, tocou a costa da mão dela,
passando as pontas acostumadas com cordas agora entre as saliências. Ouviu um
sorriso. E nesse minuto pensou que realmente não estava enganado: ouvira o
sorriso. Antes mesmo de virar o rosto para vê-la, sabia que a mulher sorria. Com
os braços entrelaçados, desviou o olhar dos degraus para ela. Aproximou-se.
Pôde sentir o calor de seu corpo. Sentiu-se confortado. Encostou a cabeça sobre
a fronte dela. Seu perfume... seus castanhos cabelos. Do alto de sua fronte,
ele reparou – naquela magnífica cena diagonal que seus olhos proporcionavam – os
olhos dela. Seu longos cílios, que ora fechavam ora abriam, mostrando os
expressivos frutos de sua alma: seus olhos castanhos. Enquanto a
mão-das-unhas-do-violão acariciavam os dedos dela, a mão-da-escala-do-violão
foi abusada e subiu pelo rosto dela. Beijou-lhe a fronte. A mão-da-escala
permaneceu em sua face, brincando com os contornos daquela deliciosa mulher. A
pinça formada pelo polegar e o indicador apertaram a bochecha dela. Depois, o
polegar circulou o mesmo local. Em seguida, os demais dedos deslizaram pelo
resto do rosto, indo dos olhos para o queixo. Enquanto a respiração dele
aumentava, o polegar friccionou a base dos lábios dela. Com mais uma pitada de
ousadia, o polegar riscou-lhe aqueles delicados lábios, aquela delicada boca
rosada. Um pequeno beijo no canto do olho esquerdo, um outro na fronte, um na
bochecha e, uma tentativa, dum beijo nos lábios dela – que fez questão de
permanecer imóvel, deixando ele apenas beijar-lhe uma pequena parte da boca. A
cena se repetiu. Ou não. A memória é falha agora. Mas, finalmente, com um
gostoso sorriso, veio a afirmação do que ele queria: ela. Com isso, a barreira
dos lábios foi vencida e se beijaram. Ele pôde sentir o sabor daquela jovem.
Mesmo com a boca seca de nervosismo, conseguiu saborear os lábios dela. Beijou.
E ela apertou o rosto contra seu peito, enquanto ele a abraçava. Mais um beijo
na fronte. Outro na bochecha. Um sorriso. Um outro beijo nos lábios. Ele sentiu,
enfim, o sabor do Ópio.
Era aquela maldita caveira novamente. - Ei, puto, chegue cá! E ela veio, meio cambaleante, com seu ritmado compasso de fêmur. Caveira mexicana. Sorria com os amarelados-pontos-temerosos-de-dentistas. Trazia um charuto entre os finos dedos da ossatura direita. - Mas o que faz aqui novamente, peste? - Sabe como é, caveirando... Invejando os que têm carne. - Porra, esse povo deve tomar um susto, hein! - Nem me fale. Não sei porque tanto medo. Uma caveirinha tão simpática como eu. Coçou as costelas. - O que é isso aí? - Isso o que? - Preso aí, velho. - Presente para usted. E retirou uma grande garrafa de rum. - Conseguiu onde? - Dei sorte. Geralmente nessa época, só encontro aguardente sem graça. Isso eu roubei de macumba de rico. Ele cuspiu. - Cacete, macumba?!