Não pude deixar de reparar
naquela cena. Girando uma pequeníssima flor entre os dedos, estava uma mulher
com a cabeça abaixada. Levantou os olhos para aquele amarelo que rodopiava, e
deixou cair uma gota de água no chão. Ela estava sentada e a lágrima passou-lhe
por entre as pernas, fazendo um som curto e opaco no corredor de cor branca.
Ela secou os olhos com o peito da mão direita. A janela mais próxima dela não
concordava com aquela situação: os raios de sol a atravessavam, esbarrando em
seu rosto agora delicado pelo pranto. Ajeitou-se mais para o outro canto do
banco. Colocou a florzinha na palma da mão. E hipnotizou-se. Quase quinze
minutos passaram sem que ela se movesse novamente. Seus grandes olhos piscaram,
para facilitar a queda da dor. Os lábios, antes trêmulos, sorriam pateticamente
agora. Um sorriso nervoso, de quem não sabe o quê fazer. Levou a flor aos
lábios. Aspirou. “Eu te amo tanto.... por que faz isso comigo?” – resmungou
para si mesma. Voltou a rodar a flor entre os dedos, olhando ansiosamente pelo
corredor branco. Uma porta se abriu e lá
do fim um vulto lhe chamou. A mulher levantou-se apressadamente e correu para o
quarto. O sol já tinha se posto. Pouco tempo ela ficou no quarto. Saiu de lá
abraçada com uma senhora. Chorando copiosamente, não tinha sequer forças para
caminhar. Não sei de onde vieram mais pessoas para ajudar aquela senhora a
erguer a mulher. Quando a levavam embora, passou por mim. Vi quando ela me
olhou com seus olhos inchados. Tive vergonha e abaixei minha visão. Depois que
se foi, reparei naquela florzinha amarela. Estava toda maltratada. Amassada. Jogada
próxima a mim. Olhei-a por um tempo. Tinha intenção de recolhê-la. Mas a visão
da flor foi prejudicada por um tecido branco. Uma mulher de branco
apressadamente pegou a flor e jogou-a no lixo...
Era aquela maldita caveira novamente. - Ei, puto, chegue cá! E ela veio, meio cambaleante, com seu ritmado compasso de fêmur. Caveira mexicana. Sorria com os amarelados-pontos-temerosos-de-dentistas. Trazia um charuto entre os finos dedos da ossatura direita. - Mas o que faz aqui novamente, peste? - Sabe como é, caveirando... Invejando os que têm carne. - Porra, esse povo deve tomar um susto, hein! - Nem me fale. Não sei porque tanto medo. Uma caveirinha tão simpática como eu. Coçou as costelas. - O que é isso aí? - Isso o que? - Preso aí, velho. - Presente para usted. E retirou uma grande garrafa de rum. - Conseguiu onde? - Dei sorte. Geralmente nessa época, só encontro aguardente sem graça. Isso eu roubei de macumba de rico. Ele cuspiu. - Cacete, macumba?!