Tudo começou com uma coceira. Dessas que dão
atrás da orelha. Com a ponta do dedo afastou o cabelo e deu fim àquela
chateação. Mas aquele sorriso patético continuou em seu rosto. Os músculos da
boca foram retraindo, restando um rabisco. Olhava a movimentação na rua. Os
lábios voltaram à seriedade. Mas os olhos não: de espantados pela coceira,
tornaram-se vermelhos, irritadiços, e já anunciavam o turbilhão silencioso que
ocorreria: a piscina das pálpebras não pôde suportar tanta água e, então, uma
gota escorreu. Cortou o rosto para despencar no abismo que o fim de seu queixo
proporcionava. Não se preocupava com as lágrimas. Não piscava. Olhava o vazio.
Os lábios tremiam de quando em
quando. Por sorte, ninguém estava por perto. Seria humilhante
ouvir novamente: “Por que choras? O que tens?”. Não havia resposta. Ou haveria,
se houvesse coragem o bastante para perguntar-se sobre a origem da dor. Mas
não. A cabeça não podia raciocinar naquelas horas. Tristeza não é racional; e
na alegria raramente pensamos no porquê das lágrimas. A garganta engolia a
poeira da alma. Uma pessoa que se sentia abraçada, contra a vontade, pela
tristeza. Movimentação escandalosa de sentimentos! Chega. Fica minutos. Horas.
Dias. Semanas. Quando menos se percebe: já não se percebe no espelho. Tomou
conta. Cegou-lhe. Passará dias inteiros com os olhos turvados. A terrível
sensação de não ter nada mesmo morando num palácio de ouro. Existe um fim. Mas
novamente a covardia é mais forte. Deseja de todo o coração a... Isso lhe tira
as forças. Olha ao redor. Deita-se na cama. Beija sua Tristeza. Chora nos
braços de quem ama. Desejando que tudo aquilo fosse o contrário, que as
lágrimas fossem de felicidade. O efeito do remédio chega. Terá pesadelos.
Dorme...
Chá é algo que fui aprendendo a gostar. Tenho os meus preferidos, claro. Não sou muito adepto do chá preto puro, mas gosto das combinações que fazem com ele. Às vezes, me sinto como o capitão Picard. E, às vezes, uso a desculpa do chá para ter uma caneca quente para segurar nos dias mais frios. No verão, chá mate gelado, claro. O chá tem sido meu companheiro – ou companheira – durante os momentos que recebo visitas. E elas sempre chegam aqui em minha casa. Estou eu ali quieto, fazendo as minhas coisas, e ouço alguém batendo à porta. Eu já sei que, nesse momento, as coisas mudarão. Eu me levanto da cadeira ou do sofá, passo pelo corredor e abro a porta. E ali está a visita. Às vezes ela está sorridente. Em outros momentos, triste. Muitas vezes séria. De vez em quando com raiva. Eu simplesmente a deixo entrar: não tenho outra opção. Não mais... Enquanto ela toma um assento, eu vou para a cozinha e preparo o meu chá. Eu tento não ser mal educad