Branco. Imensidão branca. Muito tempo corria
assim: no branco. Até que aquele quadro alvo tivesse algo para manchá-lo. Então
notava as gotas. De gesso. No teto. Branco. Um teto que parecia eternamente
disposto a reter suas lágrimas. Parecia um bolo coberto de suspiros, mas de
cabeça para baixo. Deliciava-se com aquela cobertura. Vez e outra, a imagem
sumia repentinamente: uma escuridão surgia do nada, cegando tudo, mas logo
desaparecia. Mirava o branco. Naquela imensidão vinham imagens. Seus pensamentos
espirrados na tela de forma desordenada. Vultos. Rostos. Sorrisos. Coloridos. Ela...
Ela sorria. Aquele velho sorriso encantador. Os ombros nus. Amada. Ela lhe
sorria e esticava os braços. Então, naquela pintura, viam-se as pontas de dedos
brincando com o ar, como se quisessem agarrar as mãos vindas do teto. Um braço
esticado. “Toca! Por favor!” Mas Ela era apenas feita de tinta de pensamento...
sem carne. Quando se dava conta disso, aquela tela branca manchada ia
escurecendo aos poucos, com a forma da mão lhe tapando o rosto. “Como dói!” E o
peito arfava rapidamente. Um pranto puro. De criança. Dos que amam. Soluços. A
vergonha de se chorar. A sorte de se estar sozinho. Aquele Deus maldito que
ria. Aquela vida mais miserável do que a dos outros. “Por que eu?” Seu
sofrimento único. O mundo continuava. O Sol surgia. A Lua ainda lhe trazia o
sabor dos beijos. Quando voltava a ter a visão do teto, ele já não estava mais
parado. Movimentava-se em
ondas. Os olhos ardiam. Quando aquela tela branca tornava-se
mais nítida, é porque sentia a morna lágrima escorregando pela colina de seu
rosto. Mas logo os olhos se enchiam novamente. Branco. Imensidão branca...
Chá é algo que fui aprendendo a gostar. Tenho os meus preferidos, claro. Não sou muito adepto do chá preto puro, mas gosto das combinações que fazem com ele. Às vezes, me sinto como o capitão Picard. E, às vezes, uso a desculpa do chá para ter uma caneca quente para segurar nos dias mais frios. No verão, chá mate gelado, claro. O chá tem sido meu companheiro – ou companheira – durante os momentos que recebo visitas. E elas sempre chegam aqui em minha casa. Estou eu ali quieto, fazendo as minhas coisas, e ouço alguém batendo à porta. Eu já sei que, nesse momento, as coisas mudarão. Eu me levanto da cadeira ou do sofá, passo pelo corredor e abro a porta. E ali está a visita. Às vezes ela está sorridente. Em outros momentos, triste. Muitas vezes séria. De vez em quando com raiva. Eu simplesmente a deixo entrar: não tenho outra opção. Não mais... Enquanto ela toma um assento, eu vou para a cozinha e preparo o meu chá. Eu tento não ser mal educad