Ao falar, mantinha os olhos afastados de quem escutava, ao
seu lado.
"Eu não saberia dar valor a tudo isso. Não eu. Nada disso me é necessário;
ou me importa...
"Não sei como lhe explicar... mas... imagine uma fotografia. Colorida. Uma
paisagem, talvez. E nessa foto há um destaque feito com caneta. Você seria esse
destaque, entende? Agora... esse tipo de fotografia seria o comum para as
pessoas. O correto, penso eu, seriam todos pensarem dessa maneira.
"Porém, comigo é diferente. É como se a fotografia estivesse em preto e
branco e você fosse a única coisa colorida nela. Percebe a diferença? Você não
faz parte do todo, é única. E, para mim, esse todo não tem importância alguma.
"Enfim, não se culpe. Eu é que vejo tudo deformado. Sempre observei as
fotos sem cor. Sempre. Ou seja, nada disso me importa. E você foi uma cor nisso
tudo, mas, na essência, eu continuei a não enxergar a coloração da vida."
Chá é algo que fui aprendendo a gostar. Tenho os meus preferidos, claro. Não sou muito adepto do chá preto puro, mas gosto das combinações que fazem com ele. Às vezes, me sinto como o capitão Picard. E, às vezes, uso a desculpa do chá para ter uma caneca quente para segurar nos dias mais frios. No verão, chá mate gelado, claro. O chá tem sido meu companheiro – ou companheira – durante os momentos que recebo visitas. E elas sempre chegam aqui em minha casa. Estou eu ali quieto, fazendo as minhas coisas, e ouço alguém batendo à porta. Eu já sei que, nesse momento, as coisas mudarão. Eu me levanto da cadeira ou do sofá, passo pelo corredor e abro a porta. E ali está a visita. Às vezes ela está sorridente. Em outros momentos, triste. Muitas vezes séria. De vez em quando com raiva. Eu simplesmente a deixo entrar: não tenho outra opção. Não mais... Enquanto ela toma um assento, eu vou para a cozinha e preparo o meu chá. Eu tento não ser mal educad