O açúcar mascavo começava a derreter no fundo do copo. Misturando-se
ao uísque. Ao café. Passando pelo creme batido. Passando pela boca dela. Bigode
de leite. Sorriso infantil. Bebeu também, acompanhando-a. Sua mão, pequena por
natureza, deslizou sobre a madeira clara da mesa, virando-se repentinamente,
como se buscasse ar. A palma. O monte de Vênus. Rosa mão. Dedinhos pulantes
chamando. Retribuiu o carinho, pousando sua pele esquentada pelo copo de vidro
grosso, encostando as pontas dos dedos nos dela. Piano humano. E ela jogou o
cabelo para trás. E perdeu-se olhando pela janela da cafeteria. Um gato passava
por ali. Seus olhos diminuíram graças à hipérbole formada pelos dentes. Parecia
não notar que ele a reparava. Mais um gole. Resquícios do creme em seus lábios.
Psiu, ele chamou. Psiu, e ele limpou sua boca com o polegar do violão. Psiu, e
ela deu um pequeno beijo nas inúmeras linhas presentes na pele daquele dedo
faxineiro. Sendo ladra, reconfortou o rosto em sua mão, degustando o creme batido
anteriormente pela atendente de olhos claros. Foram embora. No meio do caminho,
ela parou. Ficou de frente a ele. Encostou-se, colocando as mãos sobre o peito
daquele ser. Sua cabeça ficou à altura do coração. Ele a apertou e abaixou a
cabeça. “Está tudo bem?” – indagou próximo ao ouvido dela. “Eu te amo...” – ela
respondeu sem o olhar, deixando escapar pela barreira dos dentes o morno hálito
do café irlandês.
Era aquela maldita caveira novamente. - Ei, puto, chegue cá! E ela veio, meio cambaleante, com seu ritmado compasso de fêmur. Caveira mexicana. Sorria com os amarelados-pontos-temerosos-de-dentistas. Trazia um charuto entre os finos dedos da ossatura direita. - Mas o que faz aqui novamente, peste? - Sabe como é, caveirando... Invejando os que têm carne. - Porra, esse povo deve tomar um susto, hein! - Nem me fale. Não sei porque tanto medo. Uma caveirinha tão simpática como eu. Coçou as costelas. - O que é isso aí? - Isso o que? - Preso aí, velho. - Presente para usted. E retirou uma grande garrafa de rum. - Conseguiu onde? - Dei sorte. Geralmente nessa época, só encontro aguardente sem graça. Isso eu roubei de macumba de rico. Ele cuspiu. - Cacete, macumba?!