E não foram
apenas as batidas do lápis. Não, não, senhor. Era o som oco do peito, que
chegava pela garganta até o crânio. E lá latejava. Molhou os lábios com a
língua seca. Depois forçou-a contra a barreira dos dentes, na boca fechada.
Observando. Deitou o lápis na mesa e despejou os pensamentos para fora do
corpo, junto ao tum tum tum do coração que agora vazava pelos ouvidos. Não, não
esperava por nada daquilo. Não, senhor. Mas tudo aconteceu quando se levantou.
Foi bem rápido, sim. De maneira não cogitada, como a morte que César desejava.
Mas ela não caminhou com um punhal em mãos. Não, não, senhor. Ela veio com sua
forma de fôrma instrumental. Com cintura fina e sorridente. Seu frágil corpo
lançou-se à frente. Um abraço. Não poderia ter esperado por aquilo! Não, não,
senhor. Mas foi, juro, o que aconteceu. Ela assentou o rosto em seu ombro e o
sufocou com o perfume dos cabelos. Seu quente ser contra o desajeitado ser
batucador.
E nesse momento
de ternura mútua algo surpreendente aconteceu. Sabe, senhor, quando ocorrem
aquelas coisas que nem Deus explica? Pois é, tudo estava ajeitado, sabe? Devem
ter combinado, só pode. No instante em que se abraçaram o vento uivou. E duas
pequeninas gotas de chuva caíram: uma em cada ombro deles. A mãe que andava por
ali pegou a mão da filha criança para atravessar a avenida.
E dois corações,
eu juro, senhor... Aquela mulher conseguiu perceber o batuque do homem! Pois
naquele mesmo segundo os dois corações bateram juntos.
E ele sentiu
falta disso, senhor. Não, não, senhor. Ele não falou nada. Apenas terminou de
sentir seus braços desnudos e seu perfume. Terminou de se aconchegar no calor
dela. E partiu. Olhou para trás e acenou. Sorriu. Ela retribuiu.
Ele reparou que
aquela doença passara para ela: era o seu peito quem arfava com dificuldades
agora. E ela pensou:
"Meu
coração está saindo pela boca".