O que hoje escrevo não é
belo nem feio. Alegre nem triste. Escrevo recordações e elas não possuem cores,
como os sonhos – que afirmamos serem lindos quando sequer podemos dizer se
havia sol. O que hoje escrevo é o que se passou há dois anos e que se passará
para sempre, ao menos, para mim. A maioria de vocês, amigos, não esteve ao meu
lado nesse dia, e, juro, se estivesse, talvez hoje não tivesse coragem de lhes
olhar. Na verdade, só foram saber algum tempo depois: tempo esse em que
amarguei todas as humilhações que pude agüentar. Mas fico feliz que tenham
estado afastados, pois nada poderiam fazer. Eu mesmo só fui saber de tudo muito
tempo depois. Soube por meio de um semi-choro de um amigo: “Você não sabe o que
se passou lá em casa! O estado em que eu e meus pais ficamos, pensando
Porém, sofri um castigo
justo, confesso. E me foi de muita valia: aprendi a re-olhar o mundo. Mesmo que
tenha que sempre encarar o olhar preocupado de meus pais cada vez que fico
triste por um motivo à-toa, mesmo que eu tenha que encarar as pessoas do meu
prédio que, graças ao ocorrido, valeu-me o temor dos vizinhos, pois sou
“louco”, mesmo que eu tenha que encarar o rosto assustado dos farmacêuticos ao
abrirem a sessão de tarjados da drogaria, mesmo que eu me sinta impotente a
cada remédio que levo à boca a cada dia, mesmo que me sinta desconfortável com
cada noticiário de TV que possa fazer referência indireta ao meu passado, mesmo
que eu tenha um estigma sempre visível, mesmo assim, isso me fez rever tudo
sobre o todo. Por mais “tristes” que sejam as músicas que meu violão traz, para
mim, são superações. A cada trabalho acadêmico que desempenho, dou um tapa na
cara de cada pessoa que jurou de pés juntos que minha vida profissional acabara
em
Já sofri por causas
familiares, mas, no final das contas, o resumo sempre recai sobre paixões.
Jamais terei vergonha de dizer: “Sim, sou fraco!”, “Sim, devo à paixão meus
cortes de bisturi”, “Sim, devo principalmente às mulheres a causa de minha
alegria, e um pouco de dor”. Vocês sabem que tudo o que se passou comigo no fim
do mês de Fevereiro de 2005 foi por amor, e certamente sabem que hoje escrevo
por amor. Devo agradecer a vocês por esses dois anos em que aprendi a andar.
Tive, e tenho, altos e baixos, e eles acontecem com certa freqüência. Por isso
que também peço perdão aos que magoei nesse tempo (embora pedir desculpas não
justifique meus atos). Não sei se “revivi” melhor ou pior para vocês, pois cada
um é livre para julgar, contudo sei que muito mudou. E como eu disse: tudo se
baseia
Se representei bem a comédia
que é viver – como diria Augusto – não sei. Mas, ao menos, representei. Quando
precisei de braços para me abraçar vocês estiveram presentes. Quando procurei
ouvidos, os encontrei. Não precisarei que vocês sequem lágrimas: nunca fizeram
e, prometo, nunca o farão.
Andem na linha.