Quero um shamisen. Tocado por uma gueixa. Quero ir visitar
Hanamachi. Para colher suas flores e cerejas. Quero que a noite caia sobre
Pontocho. Ir à casa de chá. Encontrar uma maiko. Conversar com a okasan.
Diferenciar a yujo da gueixa. Quero dança. Comida. Alma. Quero Quioto.
Elegância sob tez branca. Coque. Quero, um dia, sorver três goles de três
taças. Sansan-kudo, en musubi. Viver. Morrer. Ter as cinzas espalhadas sobre a
plantação de arroz. Ser tragado pela terra e deslizar pela garganta, enfim, duma
gueixa. Tocando shamisen.
Chá é algo que fui aprendendo a gostar. Tenho os meus preferidos, claro. Não sou muito adepto do chá preto puro, mas gosto das combinações que fazem com ele. Às vezes, me sinto como o capitão Picard. E, às vezes, uso a desculpa do chá para ter uma caneca quente para segurar nos dias mais frios. No verão, chá mate gelado, claro. O chá tem sido meu companheiro – ou companheira – durante os momentos que recebo visitas. E elas sempre chegam aqui em minha casa. Estou eu ali quieto, fazendo as minhas coisas, e ouço alguém batendo à porta. Eu já sei que, nesse momento, as coisas mudarão. Eu me levanto da cadeira ou do sofá, passo pelo corredor e abro a porta. E ali está a visita. Às vezes ela está sorridente. Em outros momentos, triste. Muitas vezes séria. De vez em quando com raiva. Eu simplesmente a deixo entrar: não tenho outra opção. Não mais... Enquanto ela toma um assento, eu vou para a cozinha e preparo o meu chá. Eu tento não ser mal educad