Amarra tuas asas, anjo.
Chegou a hora de voar. O tempo te favorece: venta. Levanta. Erga teu corpo
sobre a única coluna que restou nessa terra infértil. Tira as mãos dos
tornozelos. Descruza as pernas. Erga teu corpo sobre a única coluna que restou
no meu pensamento. Teus cabelos querem fugir antes de ti: amarra tuas asas, por
favor. São cordas de náilon. Não irão te ferir. Afinei
Era aquela maldita caveira novamente. - Ei, puto, chegue cá! E ela veio, meio cambaleante, com seu ritmado compasso de fêmur. Caveira mexicana. Sorria com os amarelados-pontos-temerosos-de-dentistas. Trazia um charuto entre os finos dedos da ossatura direita. - Mas o que faz aqui novamente, peste? - Sabe como é, caveirando... Invejando os que têm carne. - Porra, esse povo deve tomar um susto, hein! - Nem me fale. Não sei porque tanto medo. Uma caveirinha tão simpática como eu. Coçou as costelas. - O que é isso aí? - Isso o que? - Preso aí, velho. - Presente para usted. E retirou uma grande garrafa de rum. - Conseguiu onde? - Dei sorte. Geralmente nessa época, só encontro aguardente sem graça. Isso eu roubei de macumba de rico. Ele cuspiu. - Cacete, macumba?!